Alicerces da Escrita
Cronograma:
Sessão de apresentação: 25 Janeiro. 10 - 11h
Fevereiro: 1, 8, 15, 22.
Março: 1, 8, 15, 22.
Horário: 10h-12h
Total 16h + 1h apresentação
Apresentação:
As sessões foram desenhadas para que cada participante explore a sua criatividade acedendo às ideias e experiências através de ferramentas que desbloqueiam o processo de escrita original e as quais poderão conduzir, em pedacinhos, à construção de histórias mais ou menos estruturadas. Na base deste curso livre está a valorização do ato espontâneo de escrever associado às vantagens da prática consistente da escrita na nossa vida. Além de uma exposição teórica de conteúdos e contextos, o curso tem uma componente prática muito acentuada com propostas de exercícios que permitem experimentar técnicas específicas de escrita. Foi desenvolvido para todos os que gostam de escrever e procuram uma plataforma para consolidar essa vontade de modo a que as ideias não se continuem a sumir e nem à espera de rasgos de inspiração para ganhar forma. É, assim, um curso exploratório que permitirá descobrir mais sobre as histórias que guarda, no consciente e inconsciente, de modo a construir um legado em palavras. Nas sessões, serei uma espécie de fio condutor, acompanhando o processo criativo e promovendo a discussão e a escuta ativa para que a escrita flua e nela descubra a sua voz.
Que todos se sintam confortáveis e confortados não só com e pela escrita, mas também pela jornada em grupo.
Programa:
Tema 1: Apresentação. Ponto de partida: escrever a partir de nós.
A escrita: o que é? De onde vêm as ideias? E por que escrevo? Narrativa/storytelling
“Por que Eu Escrevo?” – Joan Didion
“Como Escrever” – Miguel Esteves Cardoso
Tema 2: A escrita: o que é? De onde vêm as ideias? E por que escrevo? Narrativa/storytelling
(continuação).
“If you Want to Write” (Se quiser escrever) – Brenda Ueland
“O Segredo de Joe Gould” – Joseph Mitchell
Tema 3: Escrever de dentro para fora. O papel da memória e da observação.
O que emerge quando nos libertamos e nos damos tempo para escrever e apreciar?
Exercícios práticos.
Tema 4: As personagens: construção das suas dimensões
Para ser um dramaturgo(a) – Janet Neipris
Exemplos de personagens memoráveis
Tema 5: Perspectivas / Pontos de Vistas. Como a escolha de um ponto de vista contribui para a história. A intenção narrativa. Experimentação para encontrar a perspetiva que melhor serve a narrativa.
Excertos de exemplos:
“O Grande Gatsby” – F. Scott Fitzgerald
“O Retorno” – Dulce Maria Cardoso
“Come Japanese” – Julie Otsuka (excertos traduzidos em Português)
“Gillead” – Marilynne Robinson
“Na Terra Somos Brevemente Magníficos” – Ocean Vuong
Tema 6: A importância dos detalhes. Descrição:
- na Construção do Espaço.
- na Transmissão e Transporte de Emoções.
“Sem Trama e Sem Final” – Anton Tchekhov & A Arma de Tchekhov
“Os Capitães de Areia” – Jorge Amado
Tema 7: A importância dos detalhes. Descrição. (continuação).
O lugar de contexto. Cenários.
Tema 8: O Poder dos Detalhes: Ser Visual e Lírico
“Os Pobres” – Raúl Brandão
“Água Viva” – Clarice Lispector
“Os Capitães de Areia” – Jorge Amado
E outros excertos de autores já citados no programa
Tema 9: A linguagem figurada. É a metáfora poderosa? Como e quando?
Teoria da Metáfora – Ocean Vuong
Exemplos de metáforas do quotidiano e de metáforas literárias e as respetivas arquiteturas
Tema 10: Parar e refletir. Ir à memória, à matéria, aos apontamentos.
Exercícios direcionados com base no material já escrito paralela e espontaneamente nos cadernos
Tema 11: Narração e Construção de uma Cena. Contar vs. Mostrar
“Vemo-nos em Agosto” – Gabriel Garcia Márquez
Outros excertos de autores já citados no programa
Tema 12: Diálogos. Por que é que as conversas importam? Quando e por que falam as personagens?
“Fim da Partida” – Samuel Beckett
“Vemo-nos em Agosto” – Gabriel Garcia Márquez
Tema 13: Enredo, a espinha dorsal: As diferentes etapas da história e o seu arco narrativo.
Grandes Esperanças (Great Expectations) – Charles Dickens
Outros exemplos de estruturas mais ou menos tradicionais
Tema 14: Vozes e Tons da Narrativa. Como aflora a estética na escrita?
O desafio – encontrar a(s) sua(s) voz(es)
Exemplos serão elencados posteriormente para reflexão face ao que resultou dos exercícios
Temas 15 e 16: Polir a Escrita.
Discussão sobre técnicas de revisão.
Trabalhar numa peça de escrita escolhida de entre os exercícios executados ao longo das sessões de forma a expandi-la para apresentar como trabalho final. Nestas últimas sessões, seremos organizados para dar feedback mais específico (e não crítica literária) uns aos outros em função das técnicas de escrita exploradas.
Prof. Fátima Almeida
Cresci numa aldeia quase aos pés da Serra da Estrela. O silêncio das montanhas despertou em mim a vontade de encontrar palavras para descrever e reviver o que à minha volta nem sempre era audível, mesmo quando os aldeões conversavam ao entardecer, no Verão. Eram a minha companhia para compreender o mundo além do que era dito para dentro das muralhas imponentes da serra. Estudei Jornalismo, mas à noite refugiava-me em cursos da Oficina de Poesia da Universidade de Coimbra, grupo através do qual participei em vários workshops e leitura de poemas em bibliotecas e municípios do país. Tornei-me jornalista, sempre de imprensa, sempre carregada do sonhos e poesia; não só tinha uma voz, como poderia dar voz. Vivi mais de 10 anos em Macau, cenário que me inspirou a escrever ainda mais, nomeadamente um livro de ficção em acabamento com capítulos já selecionados para prémios literários locais, como o Prémio Á-Ma. Fiz uma pausa no jornalismo e dei aulas em universidades em Macau. De regresso a Portugal, frequento o programa doutoral em Ciências da Linguagem, na Universidade de Aveiro, no qual me concentrarei no estudo das metáforas da emoção em texto jornalístico. Mais recentemente encontro-me também a estudar sobre o ensino do Português como Língua não Materna.
Desenvolvi este programa de escrita com base na minha experiência e conhecimento que adquiri como estudante de escrita criativa, com maior fôlego no mestrado da Universidade de Hong Kong, não por crer que a escrita se ensina, mas por estar convicta de que a sua prática nos acolhe e torna a nossa jornada de vida mais palpável, apreciando a existência das coisas que nos rodeiam com mais humildade.
Como uma pessoa que se apaixonou pelo ato de escrever, estou muito satisfeita com esta oportunidade de vos conhecer, com a certeza que muito tenho a aprender com o quanto guardam da vida.